BRIEFING: CANABINOIDES OU ANTIDEPRESSIVOS. EVITAR COMBINAR OS DOIS PODE SER VITAL
by Eunice Veloso on May 08, 2024
Combinar a canábis com antidepressivos deve ser acenado com uma grande bandeira vermelha.
Aqui estamos a falar da canábis usada para efeitos recreativos, que muita gente chama pelo nome de “marijuana”.
Não estamos a falar de cânhamo (que é canábis mas não é psicotrópica).
Em 2020 a canábis foi excluída da lista internacional das drogas mais perigosas, por recomendação da ONU que lhe reconheceu propriedades terapêuticas. Começou a ser legislada em muitos países o seu uso para fins medicinais.
A verdade é que a canábis tem sido usada há milénios para fins medicinais e recreativos, entre outros.
O uso para efeitos recreativos não é novo, tal como foi referido, embora tenha sido sempre envolto no manto do secretismo, pelo estigma e também pela ilegalidade.
Alguns países (Canadá) já legalizaram o uso recreativo da canábis, nos EUA muitos estados também já o fizeram.
O que é pode representar um risco? O lado B da canábis.
E não existe nenhum medicamento ou droga química sintética, inclusive os antidepressivos que não tenha efeitos adversos.
A diferença é que relativamente às drogas sintéticas legais, alguns dos efeitos adversos são conhecidos ou estão descritos na bula. Da canábis na sua forma natural, sabe-se menos do que seria desejável: há ainda muito por ser revelado.
#1. CANÁBIS E DEPRESSIVOS: NENHUM DELES É INÓCUO, AMBOS TÊM O REVERSO DA MEDALHA
Se por um lado a ciência já reconhece, com alguma base científica, alguns dos benefícios da planta canábis para algumas patologias. No entanto há muitas respostas por obter relativamente à questão do “quanto, para o quê e durante quanto tempo”.
A investigação está numa fase embrionária: pouco se sabe dos efeitos de longo prazo, quais são as doses ideais a partir das quais os fitocanabinoides deixam de ajudar a passam complicar, na panóplia de patologias em que podem ser úteis: nomeadamente todas as doenças que tem dor associada e as que têm a ansiedade na base. Mais especificamente o canabinoide CBD tem sido estudado como eventual tratamento alternativo para a depressão, onde se verificaram resultados positivos, com menos efeitos colaterais quando comparado aos antidepressivos mais correntes. Estas são as propriedades mais conhecidas, atribuídas aos canabinoides.
Existe também a questão do conflito de interesses: a canábis, no seu estado natural, não pode ser patenteada. Isso por si só, pode representar um entrave para a investigação científica, que precisa de ser patrocinada. E se não houver patente: o universo de concorrência é o mundo inteiro. Literalmente.
Voltando ao lado B da canábis: os efeitos psicotrópicos do THC.
São reconhecidas as propriedades ansiolíticas e analgésicas dos canabinoides: até o THC, que é psicotrópico em teores levados, tem propriedades terapêuticas se usado com limites controlados.
Por ouro lado, quando a utilização é para efeitos recreativos, a canábis é normalmente fumada. E a canábis quando fumada, 50% do THC é absorvido pelos pulmões e entra na corrente sanguínea numa questão de minutos.
E nesse aspecto o uso recreacional da Canábis pode representar um risco para a saúde dos consumidores: por conta dos mercados poderem não estar ainda regulados, e haver canábis a circular cujo teor de THC seja desconhecido e portanto, perigoso.
Quanto aos anti-depressivos, tal como o nome indica, são fármacos que normalmente são prescritos para combater os sintomas de depressão: a tristeza, a angústia, a falta de energia, concentração e interesse, as alterações de sono e de apetite e os pensamentos negativos, normalizando o humor.
Não são inócuos: nem os antidepressivos nem a canábis.
Mas afinal quais são os efeitos adversos de um e do outro?
@ Efeitos Adversos da Canábis
A canábis afecta a pessoas de forma diferente, dependendo seu grau de exposição e tolerância do próprio organismo, constituição física, do próprio metabolismo de cada um, do seu uso pontual ou continuado. Estes são os efeitos mais comuns:
- boca seca
- paranóia
- problemas respiratórios
- ansiedade
- redução da capacidade de concentração
- cansaço
- confusão
- alteração da memória
- dissociação de ideias.
@ Efeitos Adversos dos Antidepressivos
Existem diferentes tipos de antidepressivos, que se diferenciam pelo tipo de neurotransmissores que têm como alvo, mas no geral os efeitos adversos manifestam-se desta forma:
- boca seca
- sonolência
- disfunção sexual
- retenção urinária (pode afectar o funcionamento dos rins)
- queda de pressão
- constipação intestinal (pode afectar a microbiota intestinal que por sua vez pode comprometer a produção de células imunitárias e consequentemente o sistema imunológico)
- visão turva
- taquicardia
- tonturas
- sudorese
- sedação ganho de peso
- tremores
#2. NEUROTRANSMISSORES: OS ALVOS DOS ANTIDEPRESSIVOS
O objectivo dos antidepressivos é melhorar os sintomas à depressão: a tristeza, a angústia, a falta de energia, concentração e interesse, as alterações de sono e de apetite e os pensamentos negativos, normalizando o humor.
E isso é conseguido actuando sobe os neurotransmissores que afectam as suas nossas emoções e intimamente ligados à produção de serotonina.
Embora não sejam tão viciantes como outras substâncias tóxicas como o álcool e os opióides, os antidepressivos podem igualmente criar dependência química.
Os antidepressivos enquadram-se em 3 grandes grupos que são determinados pelo neurotransmissor-alvo cujos níveis vão regular.
Grosso modo antidepressivos disponíveis no mercada distinguem-se por regularem os níveis de:
- Serotonina
A serotonina regula vários processos cerebrais, como regulação do humor, percepção, raiva e apetite, e funções corporais, como funcionamento e controle cardiovascular, da bexiga e do intestino. [4]
- Norepinefrina (ou noradrenalina)
A noradrenalina desempenha duas funções; um é um neurotransmissor envolvido em processos corporais como sono, estresse, concentração e atenção. A outra função essencial é forçar a contração e a frequência cardíaca e está envolvida na resposta de fuga ou luta.
- Dopamina
Desempenha papéis importantes no funcionamento executivo (memória de trabalho, autocontrole, organização, priorização e resolução de problemas), aprendizagem, controle motor e emoção.
#3. OS ANTIDEPRESSIVOS E OS CANABINOIDES, DE CERTA FORMA COMPETEM DENTRO ORGANISMO
Tanto os antidepressivos como os canabinoides (especialmente o CBD) regulam o humor porque aumenta a disponibilidade de serotonina e dopamina no organismo.
Já o THC também aumenta a liberação de dopamina no cérebro numa fase inicial, mas o uso prolongado no tempo de marijuana pode levar o cérebro a produzir cada vez menos dopamina e enfraquecer o sistema de recompensa. Issso leva a que as pessoas a sentam que precisam de consumir mais para obterem os mesmo níveis de prazer/recompensa. Que é o mesmo que dizer que vicia.
Relativamente à serotonina, um dos maiores riscos, de consumir cannabis quando se está medicado com antidepressivos é o Síndroma de Serotonina, que pode levar à morte se não for tratada.
@Síndroma de Serotonina
A serotonina é uma substância que o corpo produz naturalmente e em quantidades reguladas se estiver em equilíbrio.
90% da serotonina do corpo é produzida nos intestinos e precisa de ficar disponível no organismo porque é um mensageiro: muitas funções do corpo tais como humor, sono, apetite, ritmo cardíaco, temperatura corporal e a sensibilidade a dor, dependem da mensagem que a serotonina carrega para funcionarem em equilíbrio. A serotonina é necessária para o bom funcionamento do cérbero e das células nervosas.
Quando há sintomas de depressão e as pessoas são medicadas com antidepressivos, um dos objetivos é garantir que tenha disponível no organismo a quantidade de serotonina que precisa para funcionar.
Por outro lado, a marijuana também aumenta a disponibilidade de serotonina no organismo.
Quando a pessoa medicada com antidepressivos também consome marijuana vai ficar com excesso de serotonina acumulada no organismo e isso leva a ter vários sintomas que podem variar numa escala de muito ligeiros a severos:
- Tremores
- diarreia
- rigidez muscular
- febre convulsões
#4. COMBINAR A CANÁBIS COM OS ANTIDEPRESSIVOS PODE TER EFEITOS CATASTRÓFICOS
Para além do Síndroma de Serotonina acima mencionado, a conjugação de antidepressivos com marijuana pode levar a várias complicações, sendo que algumas poem a vida em risco.
O tipo de antidepressivo que se está a tomar pode determinara a maior ou menor interação com a canábis, mas globalmente os efeitos podem ser estes:
- Taquicardia (batimento cardíaco anormalmente forte e rápido)
- Hipertensão
- Hemorragias
- Hiponatremia, que é uma baixa concentração de sódio no sangue cujos sintomas podem ser:
- Náuseas e/ou vômitos.
- Dor de cabeça.
- Fraqueza muscular, espasmos (espasmos) ou cãibras.
- Pressão sanguínea baixa.
- Tontura ao levantar.
- Baixa energia ou fadiga.
- Perda de apetite.
- Inquietação ou mau humor
- Ataques de pânico
- Delírio e alucinações
A canábis medicinal pode trazer muitos benefícios para a saúde, mas essa, á partida não representa um risco maior já que presume o acompanhamento médico.
Já quando se usa a canábis com propósitos recreativos deve pensar-se bem e considerar o que mais é que se anda a ingerir.
Não é boa idea conjugar a canábis com álcool ou outros narcóticos, sedativos ou antidepressivos.
Se houver motivo para acreditar que se está com um problema de dependência em alguma substância, o ideal seria considerar a terapia ou outras tratamentos holísticos para reduzir os níveis de ansiedade.
Referencias:
https://www.recoveryinmotion.com/guide-mixing-antidepressants-marijuana/
https://www.hempathiclight.com/blogs/news/cbd-serotonin-function-and-depression-how-do-they-relate
https://socalsunrise.com/risks-of-mixing-marijuana-and-antidepressants/
AVISO: ESTE ARTIGO NÃO TEM NENHUMA PRETENSÃO DE CONSELHIA DE SAÚDE, É MERAMENTE INFORMATIVO, PELO QUE QUAISQUER INICIATIVAS QUE POSSA TER, RELATIVAMENTE À CANABIS MEDICINAL, DEVE PASSAR SEMPRE PELO CONSELHO DO SEU MÉDICO ASSISTENTE.