Canábis, sementes híbridas, mercado ilegal
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O ASPECTO ESCONDIDO DAS SEMENTES HIBRIDAS DE CANÁBIS

by Eunice Veloso on Oct 09, 2024

Apesar da legalização da canábis em vários pontos do mundo, ainda há muito sussurro quando se profere a palavra. Quase como se fosse “pecado”, só o falar.
O sussurro do nome “canábis” não é só por conta do preconceito e da associação a um crime. Está legalizada mas nem tanto assim. É legal, mas não em todo o lado.
Perfeitamente compreensível.
Mas há uma questão de fundo, pouco falada mas que paira e as pessoas sentem: no tanto que já se fala nos benefícios da planta, no tanto que sempre se falou dos riscos, que são reais, da planta, o que verdadeiramente inibe a maior parte da pessoas é um facto simples.
O facto não é dito mas é sentido: a linha ténue que existe entre a canábis legal e o mercado do tráfico. Principalmente se envolver produção em escala. Os lucros podem ser gigantes. Mas também existe o produtor doméstico ilegal.
E o lucro é grande porque há procura da canábis de alta potência. THC elevado.
E a razão é tão simplória quanto esta: o mercado legal é recente e limitado, há procura de mercado da canábis de alta potência e  o tráfico sempre existiu.
E a legalização não vai fazer desaparecer o tráfico de canábis: vai é fazer com que o mercado ilegal se torne mais requintado, em criatividade e em tecnologia acessível. 
Tanto as sementes híbridas como as sementes geneticamente modificadas de canábis são uma porta aberta de oportunidade para um cenário muito apelativo ao mercado ilegal. Mas já lá vamos.
Comecemos por ter a noção do que são sementes híbridas de canábis. Pode-se transplantar plantas mas o plantio também pode iniciar-se pela semente.
 
SEMENTES DE CANÁBIS: HÍBRIDAS OU MGO
A par das sementes orgânicas, sim: também existem as sementes híbridas e as sementes transgénicas de canábis (MGO).
Grosso modo, as diferenças são estas:
Sementes Híbridas de Canábis
    A semente híbrida resulta do cruzamento entre duas espécies de canábis diferentes. O objetivo é obter numa planta, as características combinadas de duas variantes distintas de canábis. Exemplos seriam um crescimento mais rápido, ou uma maior resistência a intempéries ou pestes. Mas o objectivo também pode ser obter canábis com teores elevados em THC.
    Sementes MGO de Canábis, ou Transgénicas
      As sementes GMO são criadas em laboratório e são geneticamente modificadas, injetando nas sementes, genes duma outra planta, para obter características que se desejam. Normalmente são usadas em produção em larga escala.
      Sementes Orgânicas De Canábis
        São sementes produzidas naturalmente, sem que se recorra o uso de pesticidas ou de qualquer outra substância química. Normalmente são sementes com capacidade para  vingar em condições adversas: porque são naturais.
        É possível obter canábis híbridas usando sementes orgânicas de canábis para a polinização cruzada com outras variedades de canábis.
        Canábis, sementes híbridas
        SEMENTES HÍBRIDAS E O MERCADO ILEGAL DE CANÁBIS
        O Mercado Ilegal de Canábis
          O mercado ilegal de canábis existe na forma do pequeno produtor – que pode ser uma plantação “indoor” ou no quintal da casa, passa pelas pequenas plantações, até chegar às máfias internacionais – do Reino Unido (dizem que são os chineses), França, Itália, Holanda, Albaneses e Espanha. Estes são os grandes mercados ilegais a operarem na Europa.
          O mercado legalizado chegou há pouco mais de uma década e a oferta está limitada ao cânhamo, canábis medicinal e canábis para consumo pessoal na União Europeia.
          O mercado ilegal chegou faz tempo e durante muito tempo “cultura de consumo” de canábis na Europa era de haxixe (resina de canábis). Na última década os hábitos de consumo europeu mudaram, há uma tendência maior para o consumo de  canábis na forma herbácea. As plantações começaram a surgir.
           A par disso ocorre a legalização e também há todo um processo de industrialização.
           
          Nascimento Da Canábis De Alta Potência: A Iniciativa Californiana Associada Ao Know-How Holandês
            A questão da manipulação das sementes começou na década de 60-70, quando produtores de canábis da Califórnia melhoraram as técnicas de cultivo, hibridizaram plantas, sem usarem sementes, para aumentar a potência de uma variedade mexicana de canábis e obtiveram   plantas femininas com alta potência de THC.
            Viveiros de Canábis

             

            A Produção Indoor Das Organizações Criminosas Da Holanda
              À iniciativa californiana juntou-se o know-how agrícola holandês: criaram sementes e variedades de canábis com alta potência em THC capazes de crescer em climas temperados.
              As organizações criminosas holandesas, com experiência no cultivo indoor estenderam os seus braços ao mercado retalhista legal de plantas exóticas através das “lojas de cultivo”, também especializadas no equipamento necessário ao cultivo interno de canábis: lâmpadas, sementes, mudas e nutrientes.
              E forma-se assim uma espécie de cooperativa, onde as redes criminosas financiam gestores de lojas selecionadas, discretas, pequenas ou de media dimensão, incentivam-nos ao cultivo e proporciona- assim um network de branqueamento de capitais.
              E por aí começa a esbater-se a linha ténue entre o mercado legal e o ilegal.
              Se antes as máfias estavam mais viradas para a produção e comercialização de drogas sintéticas como o ecstasy: hoje o mercado de canábis de alta potência é-lhes muito mais interessante.
              O avanço tecnológico permite-lhes manipular a canábis desde a semente, para produzir canábis de alta potência, que lhe garante obter lucros muito mais elevados do que a canábis tradicional.
              O problema do mercado ilegal?  Há vários.  Destacam-se estes:
              A percentagem de THC da canábis é um deles. Há canábis a ser produzida com teores de THC superiores a 80%.
              80% de THC é para lá de viciante: é incapacitante.
              Qualquer benefício medicinal que se consiga associar a uma canábis tradicional: deixa de existir quando se fala de 80% de THC.
              E a canábis sendo ilegal, não está controlada.
              Não estando controlada: facilmente entra em circulação sem que os consumidores saibam o que estão a consumir. E leva os consumidores a ficarem viciados a uma velocidade relâmpago sem nem darem conta. Pode facilmente tornar-se e uma arma bio- sociológica,  tal como as drogas sintéticas o são, se o objectivo for lesar uma geração. E o grupo de maior exposição ao risco são os adolescentes.
              Outra questão que se levanta com o mercado ilegal é que muitas vezes são feitas plantações indoor cujas instalações físicas não obedecem a qualquer tipo de critérios de segurança. Existem “fábricas”  domésticas ilegais em prédios onde se verifica a existência de:
              • adaptações duvidosas de instalações eléctricas para alimentar os ventiladores e a iluminação necessária para cultivar canábis indoor: essas instalações ilegais podem entrar em sobrecarga, e provocar incêndios colocando em causa todo um edifício e a vida de todos os que se encontram nele.
              • ruido perturbador dos ventiladores
              • elevados níveis de condensação nas janelas por ventilação insuficiente para o número de plantas a realizarem fotossíntese
              • cheiro forte e enjoativo que pode ser perturbador
              Canábis, cultivo indoor

              Além disso há a imigração ilegal e/ou o trabalho escravo a que muitas dessas plantações recorrem, ainda que a pequena ou grande indústria da canábis ilegal não esteja associada a violência.
              Mas atrelado ao trabalho escravo e/ou emigração ilegal estão muitas vezes contextos de má nutrição, péssimas condições de higiene, doenças, pessoas que não podem sair da instalações onde simultaneamente  vivem e trabalham, passaportes a terem que ser pagos em trabalho, enfim: trabalho escravo.
              Há que ser consciencioso(a). Quer seja na óptica do consumidor, quer seja na óptica do produtor ou comerciante.
              E se a ideia for montar um negócio á volta da canábis: o melhor é que seja legal. Por questões éticas também.
              Há que pensar em lucro sim, com balizas éticas.
               

              Referências:

              https://www.allthatgrows.in/blogs/posts/gmo-hybrid-organic-heirloom-seeds-difference#:~:text=Is%20it%20important%20to%20decode,two%20varieties%20through%20artificial%20mating.

              https://www.northwales.police.uk/news/north-wales/news/news/2024/may/hidden-harms-of-cannabis-factories-in-our-communities/

              https://journals.openedition.org/echogeo/17704

               

              AVISO: ESTE ARTIGO NÃO TEM NENHUMA PRETENSÃO DE SER UM CONSELHO DE SAÚDE, É MERAMENTE INFORMATIVO, PELO QUE QUAISQUER INICIATIVAS QUE TENHA, RELATIVAMENTE À CANABIS MEDICINAL, DEVEM PASSAR SEMPRE PELO CONSELHO DO SEU MÉDICO ASSISTENTE.

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